Por: Prof. Marcel Camargo
Eu sempre tive dificuldade em dizer algo, quando aquilo pudesse machucar alguém. Meu pai me dizia que eu queria agradar todo mundo, que eu não suportava que ninguém deixasse de gostar de mim – meu pai me conhecia como ninguém. E era assim mesmo, eu me desesperava quando achava que uma pessoa estava brava ou chateada comigo. Felizmente, estou melhorando nesse aspecto. Aos poucos, mas melhor.
Eu leio muito e observo o que me acontece, as pessoas, o mundo, a vida. Sou introspectivo e isso me ajuda a refletir sobre o que vem acontecendo, sobre tudo o que vai se desenrolando lá fora e dentro de mim. Percebi que sempre tive medo do olhar dos outros, da opinião deles, do que poderiam pensar a meu respeito. E isso tem a ver com autoestima baixa, com duvidar de si mesmo, com se achar bem menos do que se é. E isso dói.
Cansado, então, de doer, eu comecei a exercitar o amor-próprio, tentando encontrar em mim qualidades que poderiam me ajudar a ser melhor, mais confiante, menos bocó. Não é fácil, porque a gente se coloca de lado por tanto tempo, que sente culpa quando se adianta ao primeiro lugar. Mas a vida ajuda muito, nesse sentido, a quem estiver disposto a aprender. As decepções com as pessoas que priorizávamos e nos deixaram no vácuo são um ótimo remédio para que acordemos, para que a gente pare de ser besta.
As tempestades que caem sobre as nossas cabeças também nos tornam mais fortes frente a pequenezas que, se antes nos aborreciam, passamos a ignorar. Eu já consigo enxergar, muitas vezes, a real dimensão do que acontece e tento perceber quando devo gastar energia ou não. Certas batalhas não vale a pena lutar, certas coisas não vale a pena aguentar, certas pessoas não vale a pena ouvir. Não podemos é lutar sozinhos, amar por dois, insistir com o que não retorna nada.
Hoje, eu já consigo dizer não, não quero, não posso, não gosto, pois me incomoda me passar por bobo. Ninguém quer ser um banana. Eu ainda não lido muito bem com a mágoa que o outro carrega em relação a mim, mas não me desespero. Eu aprendi que o tempo é o senhor da razão e tudo se encaixa, ficando o que deve, saindo o que não tem serventia. Tudo se explica, no devido tempo, nos devidos lugares, ainda que de maneira contrária aos nossos desejos. E eu digo o que pode soar antipático quando sei que será impossível me calar, que me sentirei mal se guardar aquilo aqui dentro. Sinceridade, afinal, demonstra caráter.
Nada como um dia após o outro, nada como retirar lições dos tombos, nada como enxergar quem é quem de verdade. Isso a gente aprende com a dor, muitos nem assim. Hoje eu consigo ser grato a cada ventania que desarmou minhas certezas, pois foi juntando os pedaços de mim mesmo que consegui me reconstruir com as cicatrizes que definem minha força, minha esperança, minha fé. Sigamos!
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