Eu sempre quis ser menos vaidosa, assumir os meus anos. Mas os meus anos não queriam me assumir.

Bonitinhos os meus anos, generosos, teimosos e colaborativos. Só pediam botox 1 vez ao ano, nas ruguinhas da testa e dos olhos, tintura de cabelo a cada 20 dias, manicure e pedicure a cada 15 dias, modelagem de sobrancelha a cada 20 dias, e treino na academia de segunda a sexta.

Eu era fiel às necessidades dos meus anos, mas achava muito interessante as mulheres que se libertavam desse ritual.

Para mim era um luxo inalcançável uma mulher envelhecer sem nenhuma outra obrigação que não viver. Um luxo os pés e as mãos de unhas branquinhas, e os cabelos começando a platinar. Um luxo uma sobrancelha apenas levemente delineada, tirando apenas os fios que estavam fora do trajeto natural.

Um luxo e uma libertação. Vcs não imaginam que tarefa chata cada uma delas se torna, depois de anos e anos fazendo essas mesmas coisas, repetidamente, na velocidade da luz.

Pois a C19, me deixou experimentar esse tipo de libertação, entre tantas restrições. Há 1 ano não frequento academia e raramente me exercito em casa. Há 4 meses não pinto, não corto, e não escovo o cabelo. Sobrancelha, idem. Estou sem botox há 1 ano e meio, o tempo em que não vejo a minha filha Sandra, minha “botoqueira oficial.”

E como estou me sentindo? Depende do dia. Tem dia que me sinto velha e desleixada. Tem dia que me sinto liberta de tantas imposições.
Eu continuo sendo eu, com ou sem esses recursos de fachada.

Se será para sempre, não sei.

Os meus anos terão que se submeter à minha decisão.

Por enquanto, estou de férias.

Por: Ana Maria Ribas Bernardelli






Revista de opinião e entretenimento, sobre temas relacionados ao equilíbrio entre mente corpo e espiritualidade.