Por: JCS
O médico e neurocientista Miguel Nicolelis afirma haver uma enorme possibilidade de um “COLAPSO NACIONAL”, e diz ser necessário um lockdown nacional, “IMEDIATO”, de 21 dias, por conta do grande agravamento da pandemia do novo coronavírus. Afinal, ontem, o Brasil registrou um recorde de 1.582 novas mortes causadas pela covid-19 nas últimas 24 horas.
“A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia” disse ele, em uma entrevista no jornal O Globo.
Lhe perguntaram como o Brasil chegou em uma situação em que o colapso do sistema de saúde é registrado em vários estados, Nicolelis disse que, para chegar neste nível, “surgiram efeitos sincronizadores”, quando cada estado registrou problemas em um certo período, e isto se deve à combinação de festas de fim de ano, as eleições e o Carnaval.
“Agora, tudo está explodindo ao mesmo tempo. Isso significa que não tem medicação, não tem como intubar, não vai dar para transferir de uma cidade para outra, não vai ter como transferir para lugar nenhum. A consequência do colapso de saúde é o colapso funerário. Cientistas não olham só o presente, mas olham o futuro, enquanto o político está pensando no hoje, em como resistir à pressão do setor X para não fechar, a despeito das mortes”, argumentou.
Ele afirma ser “danosa” o que chama de “ausência de comando do governo federal”, o cientista afirma ver esta situação como uma grande chance de um colapso nacional.
“Não é que todo canto vá colapsar, mas boa parte das capitais pode colapsar ao mesmo tempo, nunca estivemos perto disso. Se eliminar o genocídio indígena e a escravidão, é a maior tragédia do Brasil. A ausência de comando do governo federal é danosa. Isso é uma guerra. Em outros países essa é a mensagem que foi dada, veja a China. É curioso ver que no mundo ocidental exista dificuldade de transmitir essa mensagem da gravidade. Em Israel, metade da população foi vacinada no meio de um lockdown, e Israel é um país que entende o que é uma guerra. Adotaram discurso de salvação nacional, a mobilização foi total”, disse
”Eu tenho me perguntado muito: qual é o valor da vida no Brasil? Que valor os políticos dão para a vida do cidadão se não fecham as atividades num lugar com 100% de ocupação dos leitos? Ter que preservar a economia é não só uma falsidade econômica como demonstra completa falta de empatia com a vida das pessoas. O que mais me assusta é o pouco valor à vida. Os políticos são o primeiro componente, mas a sociedade também. Porque, quando alguém vai a uma festa clandestina de fim de ano, de carnaval, se aglomera numa balada ou à beira do campo de futebol, não compromete só sua saúde, mas a vida dos seus familiares, seus vizinhos e das pessoas que nem conhece. Nossa sociedade em algum momento perdeu a conexão com o quão irreparável é a vida” – Miguel Nicolelis
“Já a respeito da vacinação, o médico disse que ninguém esperava que o Brasil fosse ter um desempenho tão baixo. A campanha de imunização começou em meados de Janeiro, mas segue em passos tímidos. “Poderíamos estar vacinando 10 milhões, mais do que qualquer país. É como uma tragédia grega, mas é brasileira, que alguém vai contar um dia. Porque ela é épica, como a derrota dos troianos”.
LOCKDOWN
Conforme avaliação do cientista, o país precisa urgentemente de um lockdown nacional, com grande apoio e participação da mídia para ter uma boa colaboração da população porque, nessa altura, medidas de restrição de horário não tem efeito algum.
“A consequência da perda de meio milhão de pessoas não dá nem para imaginar. Sem gente não tem economia, ninguém produz, ninguém consome. É inconcebível”, adverte.
Ele afirmou que ainda há tempo de reverter o quadro, “mas tem que mudar tudo”, afirmando que está propondo uma comissão de salvação nacional, sem a participação do Ministério da Saúde, organizada por governadores, para resolver a questão logística.
“É uma guerra, quando vamos bater de frente com o inimigo de verdade? O Brasil é o maior laboratório a céu aberto para ver o que acontece com o vírus correndo solto. Em segundo lugar, um lockdown imediato, nacional, de 21 dias, com barreiras sanitárias nas estradas, aeroportos fechados. E depois ampliar a cobertura, usando múltiplas vacinas. Não dá para ficar discutindo, assina o contrato e vai em frente, deixa para depois, estamos falando da vida de 1.500 pessoas por dia, são 5 boeings caindo. Vacinação, vacinação, vacinação, testagem e isolamento social. Não tem jeitinho numa guerra. Estamos diante de um prejuízo épico, incalculável, bíblico”
Com informações: Portal UOL
Imagem capa: Bruno Santos/Folhapress