Não há mais voos entre Brasil e França. Viramos um país letal. Cortesia do governo federal, que custou a reconhecer que a gripezinha era assassina. Numa escala infinitamente menor de sofrimento, se comparado ao luto de tantos, o singelo sonho de conhecer Paris, ou de pra lá retornar, terá que ser adiado, mas o savoir vivre continua disponível.
A ideia é passar esse domingo em Paris entre quatro paredes. Os croissants de seu petit dejeneur serão pagos em reais e acompanhados de um bom suco de laranja natural (cafés da manhã de hotéis 4 estrelas em Paris não oferecem muito mais do que isso). Pronta para começar o tour?
Diga bonjour,mon amour aos demais membros da família e vista-se como uma nativa, é só seguir as dicas do ícone @inesdelafressangeofficial. Você deve ter uma camiseta branca, uma calça cáqui, um mocassim. Perfeito. Está linda.
Inicialmente, que tal um programa cultural? Selecione no spotify um concerto para piano de Debussy (deixe Edith “Piá” para a noite) e abra os livros de arte que enfeitam sua mesa de centro. Nenhum? Então digite no google “museu d´orsay visita virtual” e perca-se entre os impressionistas. Você ficará tão entretida que nem perceberá o sol entrando pela janela.
A natureza chama.
Você deve ter plantas em casa. Sente-se perto delas para ler algumas páginas de Balzac, se for romântica, ou Michel Houllebecq, se não for. Difícil se concentrar? Seus filhos berram a sua volta? Lápis preto, papel e uma prancheta: chame-os para uma aula de desenho. A modelo é você. Pose para as crianças como se estivesse na Place de Tertre e divirta-se com o resultado. A figura retratada parecerá qualquer pessoa, menos a mãe deles. Igualzinho aos artistas de boina que faturam alto com os turistas.
Omelete no almoço. Ou, havendo pão, presunto, queijo gruyère e um forno, sai um croque monsieur. Vinho rosé já não é considerado cafona, abra sem medo. Ou um tinto. Em Paris, cerveja é contravenção.
De salto baixo e com alguns (ou vários) fios de cabelo branco, ninguém dirá que você não é uma europeia. Hora de ver um filme com Isabelle Huppert, Juliette Binoche, Charlotte Gainsbourg ou, sendo saudosista, Catherine Deneuve.
O filme acabou e ainda é cedo para o jantar? Dê uma circulada de carro pelos bulevares parisienses escutando uma rádio local (site Drive & Listen) ou vasculhe quinquilharias no fundo do armário, resgate antigas fotos em sépia, observe a ruína em que está o fogão – considere isso uma visita a um mercado de pulgas. Se perder o humor, entrou no personagem.
Mas recupere-se a tempo de um french kiss entre os lençóis.
Saber viver é uma arte, mesmo em casa. Comer, ler, beber, amar – falta o quê? Talvez, antes de apagar a luz, um licor de cassis. Bon voyage.