Fabrício Carpinejar
Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.
Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.
Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.
Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?
Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles.
Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que seu filho contasse com a certeza da companhia diante da ameaça da ausência.
Quem é pai entendeu a sua controvertida escolha. Ele era fanático pela sua criança.
Preocupou-se em reservar o seu tempo derradeiro para fazer segredo, realizar um sonho prometido e entregar secretamente parte de si a quem mais amava. Esqueceu a sua condição pública e o seu adoecimento irreversível para gerar a intimidade das palavras finais, para um último e inesquecível gol da cumplicidade a dois.
Bruno Covas queria que a saudade do filho partisse da arquibancada, do alvoroço, dos gritos de incentivo, e não do silêncio do velório.
Não podemos definir a data de nossa despedida, mas escolher o que ficará de nós, moldando o tempo que nos resta e a matéria da lembrança.
Morreu um pai mais do que um prefeito.
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